sábado, 9 de abril de 2011

Mãos


essas mãos, ásperas, trôpegas, delirantes, sutis, sensíveis, suaves, trôpegas...se tocam devagar em um movimento sensual, sedutor, sexual. dançam uma valsa. pra não dizer mil valsas. essas mãos que quando não vêem o tempo passar se juntas, e sós anseiam o prazer fugaz, efêmero de se ver com os olhos das pontas dos dedos. não se inquietam, se atormentam, se deleitam. se atropelam. fazem uma composição de um blues ruidoso e sofrido. sentem-se. soletram. sofrem. obcecadas entrelaçam-se em um jogo de seduzir sem querer. em um jogo de não se reprimir. coreógrafas, deslizam em um dança contemporânea descompassada. em um arranjo do acaso, do ser acaso. escapam se escapam. sabidas por si só. anseiam. tontas. fugazes. sarcásticas, zombeteiras, profundas, devoradeiras, safadas. delas escorre lágrima e sedução e às vezes as devora. as incorpora. as deixa incorporar. solicitam-se, temem-se e julgam. roxas, amarelas, lilases, douradas, furta cor. e as mãos têm línguas que se devoram, que regurgitam, remoem, se consomem. golpeiam, se debilitam. jogos imaginários, contidos. represados, relapsos, fugazes. toques sublimes. subliminares. jocoso, indolente. e sorriem para si. arregalando seus dentes. e fecham a mandíbula fortemente, desesperadamente, em um desejo de se mastigar. vasto, dolorido e gracioso. subversivo. sedutor.

Elisa Rodrigues

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