sábado, 12 de dezembro de 2009

Aniversário



Parece que tudo foi
-soprado-
e não virá nada
-no vácuo do assopro-

Tudo indica que o melhor é olhar pra frente.

Elisa

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Precipitar

Ela sempre foi tão bonita como um dia cheio de negras nuvens
Isso porque antes de ser chuva a negra nuvem é gota no chão
Ah, se por ventura o vento a desviasse e ela molhasse o pano do meu guarda-chuva!
E eu não entendo porque se tem negras nuvens eu ainda consigo ver o sol
E não entendo porque as gotas suspensas que caem não batem no pano esticado do meu guarda-chuva
O que adianta ser guarda-chuva se ele nunca conhecerá a chuva?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sentido



A menina entra dentro do banheiro,
tranca a porta,
encosta na parede descendo suavemente,
e chora de cabeça abaixada com as mãos no rosto.
Ela levanta sua cabeça para deixar a lágrima cair.
Então ela percebe.
Ela sempre achara aquele banheiro muito grande.
Mas ele nunca foi tão grande quanto daquela vez.
E ela nunca foi tão só como dentro daquele banheiro.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

1ª impressão pessoal bem resolvida

foto: Elisa Rodrigues


É que sinto seu cheiro em todo lugar.
A questão não é todo lugar.
É todo esse seu cheiro.
Cheiro de árvore doce. Não.
De água doce escorrendo no tronco seco da árvore florescida.

Acho que consegui verbalizar seu cheiro.

domingo, 15 de novembro de 2009

Monólogo


Devo ter perdido minha vocação pra objetividade em alguma ruela no meio do caminho. E não sou subjetiva a ponto de conseguir objetivar minhas aspirações. Ou seja, todos os esforços de transformar bases em grandes e sólidas construções é inútil. Minha única alternativa é ser direta sem avaliar. Não adianta. É necessário colocar o que sinto pra fora. Abortar essa confusão. Dizer em uma música não é o suficiente. Parece que ninguém quer ver. Se alguém por acaso ver, não saberá. Essa falta de reparo, não é possível que você não repara. Não é possível que você não repara (o) que eu reparo em você. Tenho aflição dentro das veias. Um impulso que ferve e ainda vou te passar num abraço e te levar pra fora daqui.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Impressões fotográficas

stand by


Eu sou quem aperta o botão que dispara a câmera. Quem controla o registro, mas não controla o que é registrado.
Não há como separar a fotografia do fotógrafo. Fotografar é contar história e poder provar que ela existiu. É ver e registrar o que só você viu e da maneira como viu. Se colocar na fotografia mesmo não sendo fotografado. Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo, como disse Newton, e tudo muda o tempo todo. É isso que torna cada fotografia única apesar da contemporânea histeria pelos cliques. A câmera é, portanto, um aparato que supre a nossa incapacidade de memorizar com detalhes e de divulgar nossas impressões e visões sobre o mundo. Fotografar é um exercício de captura das interpretação vividas que serão interpretadas por uma maioria que não viveu. É tornar uma imagem uma potente experiência virtual. O recorte que abre a imaginação para o todo.


domingo, 30 de agosto de 2009

sábado, 8 de agosto de 2009

eu preciso desses seus olhos que me devoram, que me amam. eu preciso dessa boca. do seu sangue, do cheiro do seu sangue. da sensação do sangue que pulsa e some. desse gosto de boca. da sua boca. dessa voz que fala e some. antes que eu não acredite. acredite. eu bem que queria ficar. você que some. que não está. bebe veneno quando acorda. mata. me mata. some. você não é aqui. você é o passado e é agora. preciso do seu gosto. desejo de desgosto. não quero fuga. não é fugaz. fala que não me conhece. não devia me abraçar. eu. preciso desse abraço. mas você não. você nega. nega porque não gosta. não. porque gostaria. eu não te vejo. se vejo escondo. se escrevo me exponho. gosto desse delírio insano. loucura. se eu não pararia eu parei. essa é a vida. esse som de vento. esse monte de coisa que não esvazia. que transborda. entorna. esparrama. se isso não te toca. tocaria. se não te importa. não me importaria. não dá pra ser agora. quem sabe outro dia.

imagem e texto: elisa

terça-feira, 28 de julho de 2009

Máquina do tempo

Nacional - Oswaldo Cruz! =)
Foto: Elisa



Recebi cartas, por um tempo de um grande amigo.
Mandei.
E não eram apenas palavras.
Em cada palavra escrita.
Lida.
Um vida.
Sua vida.
Emoções juvenis.
Sensações fortes, ansiedades.
Aventuras.
Entre amizades mantidas, outras novas, fim de algumas que não eram pra ter fim. Fortalecimento de outras.
Nunca senti tantas emoções.
Nem ele.
Tão intensas, tão amorosas.
Todas.
Em cada remetente, um destinatário.
Uma história.
Apropriação.
Quem lê já não sabe se é do outro.
Minha.
Alegrias somatizadas.
Piadas.
Subi os morros de Araxá.
Contagem na palma das mãos.
Não eram cartas particulares.
Tantos leram.
Eles também.
Tantos participaram.
Comentaram.
Criaram anexos.
Vida.
Papel.
Papelização da vida.
Vida da papelização.
Imaginação.

Realidade.
'A festa acabou.'
Distância.
Distância.
Não existem mais cartas.
Amizade.
Tempo.
Falta.
Carnaval:
Vivi a realidade do papel.
Reencontro em despedidas.
Reencontro/Encontro dos presentes e do passado.
Duas histórias.
Fantasia.
A verdadeira.
Uma na cara da outra.
Máquina do tempo.
Tempo condensado.
Passado.
Presente.
Gozo de alegria.
Lágrimas.

Tudo mudou.
Pra sempre.
Igual.


Elisa

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Quem eu sou


Sou um eclipse.
Este ano eu já aconteci.
Daqui há 60 anos voltarei a acontecer.

Pobre de mim mortal,
que não sei se terei uma próxima vez.
Se houver,
tome por certeza que será a última.
Elisa

domingo, 5 de julho de 2009

Aforismo


Política - O que não gosto na política é o que ela tem de religião. E vice-versa. E tem muito de uma na outra.
Não gosto de ser dramaticamente convidada pra um evento. O que a religião e a política fazem é criar drama para conquistarem novos adeptos.
Não tenho partido, tenho pátria. E não tenho religião.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Saudosismo


Meu saudosismo toca o som de um novo coração,
Esses pedaços de saudade dos cheiros, dos amigos,
dos ombros que fizeram vida de algo inanimado.
Um quebra-cabeça que funciona ao contrário.
As peças desmontam, se espalham e somem com o tempo.
O papel amarelado, só guarda a memória de um dia,
de um sorriso, de um afeto, de um desafeto,
da ventura desaventurada que é o tempo passando...
Escapam os segundos,
Mas não escapa a lembrança.

Todas as rugas que vimos nascer,
todos que vimos morrer.
Os fins de semana com a família,
As tardes que não duraram o suficiente,
em lugares ordinários,
de demasiada magia.
Infinito que não cabe na gente.

E sempre será:
Eu nunca mudei,
meu endereço e meu telefone ainda são os mesmos...
mudança é o caminhão que chegou na casa do vizinho.



Não é justo um lamento.
Como não é junto não relembrar.
Sem lamento tem jeito?
Nem mesmo consigo tentar...

Desculpem, mas fui injusta.


Elisa

(Acho que tô com síndrome de Peter Pan) =P

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Comunicante, comunicado


O que era aquilo senão um cometa cadente rasgando o céu?
Já passou, já passou.
Não vai voltar.


Elisa

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Estrelas cadentes


Vive-se pouco para ver estrelas cadentes,
menos ainda para sonhar com elas.
Devo admitir que já vivi demais.
Entretanto, não o suficiente.


Elisa

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Proximidade



Triângulo > Retângulo

-Dois está para um, assim como um está para dois.-

Não ser um dos pontos que ligam a reta da hipotenusa:
Eis o modo de ser o ponto que converte as duas retas de menor distância em um triângulo retângulo.

Elisa

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Você só


Sonhei que eu estava no seu jogo,
que você era meu par,
meu mar, meu ar...
Sem você não tem dois,
não acontece nada,
nem mesmo posso respirar...

Elisa

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Música de carnaval


Você escreveu melodias na minha memória;
no meio da estrada,
a luz teimava em brilhar fortemente,
todas as cores se uniam em um só ponto dolorido...
colorido na cabeça,
mesmo que ela estivesse quase inexistente.

Você canta e faz a minha cabeça parar.
caminha por sons desconhecidos
que se fecham em um círculo.
-essas canções são você?

Todo canto é de longe uma alegria,
toda despedida é de perto uma tristeza,
o que sente saudade fica tristemente alegre quando perto.
Todo constrangimento torna desprezível a realidade,
toda intimidade acaba por constranger.

Elisa

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Faz sentido AGORA


O melhor modo de apagar uma história é não contar a ninguém.
Até que um dia ela se apague ou se transforme em uma dúvida até mesmo pra quem a viveu. Deixando a curiosidade de ter realmente vivido ou de ter sonhado (ou ter tido um pesadelo). Eleger as glórias a serem contadas(e, quem sabe, aumentadas) e destruir os fracassos, frustrações e desilusões a serem esquecidos. Se não se lembra do tudo na vida porque não escolher o que vai se lembrar? A vida vai se tornando uma ferida aberta que se não se mexe: cicatriza, mas que se cutucamos pode até mesmo provocar uma hemorragia. Um sistema de relações humanas duras, de duras penas. Saber do que se fala é um privilégio para poucos. Saber calar é uma tortura necessária pra quem sabe falar. Não é a fala que distingue os homens em coragem, nem o silêncio é o que os diferencia em covardia. Esconde-se o terror porque falar do terror é tornar a vivê-lo. Se as lições podem ser tiradas de sentimentos fúnebres por que não pode se reforçar sentimentos bons relembrando-se deles? A eterna necessidade do sentimento de culpa pra se solidarizar. E no que adianta? Nada. Ainda sim há guerra, há loucura, há o pessimismo. E também, uma identificação e vangloriarão do que é "mau" e do que morre ou mata (que seja pelo bem).
Não como um sentimento universal, mas como um sentimento único. Um silêncio que fala por si só. Que procura não apenas a paz mundial, mas que faz sua parte pelo caráter intimista.
"Hoje você teve pesadelos?" - foi a pergunta feita.
O silêncio foi a resposta.

Elisa