sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Sentimento Apocalíptico
Pensando que cada passo na minha vida era um contacto com o horror do Novo, e que cada nova pessoa que eu conhecia era um novo fragmento vivo do desconhecido que eu punha em cima da minha mesa para quotidiana meditação apavorada - decidi abster-me de tudo, não avançar para nada, reduzir a acção ao mínimo, furtar-me o mais possível a que eu fosse encontrado quer pelos homens, quer pelos acontecimentos, requintar sobre a abstinência e pôr a abdicação a bizantino. Tanto o viver me apavora e me tortura.
Decidir-me, finalizar qualquer coisa, sair do duvidoso e do obscuro, são coisas [que] se me figuram catástrofes, cataclismos universais.
Sinto a vida um apocalipse e cataclismo. Dia a dia em mim aumenta a incompetência para sequer esboçar gestos, para me conceber sequer em situações claras da realidade.
A presença dos outros- tão inesperada de alma a todo o momento-dia a dia me é mais dolorosa e angustiante. Falar com os outros percorre-me de arrepios. Se mostram interesse por mim, fujo. Se me olham, estremeço. Se []
Estou numa defesa perpétua. Doo-me à vida e a outros. Não posso fitar a realidade frente a frente. O próprio sol já me desanima e me desola. Só à noite, e à noite a sós comigo, alheio, esquecido, perdido - sem liga com a realidade nem parte com a utilidade - me encontro e me dou conforto.
Tenho frio da vida. Tudo é caves húmidas e catacumbas sem luz na minha existência. Sou a grande derrota do último exército que sustinha o último império. Saibo-me a fim de uma civilização antiga e dominadora. Estou só e abandonado, eu que como que costumei mandar os outros. Estou sem amigo, sem guia, eu a quem sempre outros guiaram...
Qualquer coisa em mim pede eternamente compaixão - e chora sobre si como sobre um deus morto, sem altares no culto, quando a vinda branca dos bárbaros moceu nas fronteiras e a vida veio pedir contas ao império do que ele fizera da alegria.
Tenho sempre receio de que falem de mim. Falhei em tudo. Nada ousei sequer pensar em ser; pensar que o desejaria nem sequer o sonhei, porque no próprio sonho me conheci incompetente para a vida, até no meu estado visionário de sonhador apenas.
Nem um sentimento levanta a minha cabeça do travesseiro onde a afundo por não poder com o corpo, nem com a ideia de que vivo, ou sequer com a ideia absoluta da vida.
Não falo a língua das realidades, e entre as coisas da vida cambaleio como um doente de longo leito que se erge pela primeira vez. Só no leito me sinto na vida normal. Quando a febre chega agrada-me como coisa natural [] ao meu estado recumbente. Como uma chama ao vento tremo e estonteio-me. Só no ar morto dos quartos fechados respiro a normalidade da minha vida.
Nem uma saudade já me resta das brisas à beira dos mares. Conformei-me com ter-me a minha alma por convento e eu não ser mais para mim do que outono sobre descampados secos, sem mais vida viva do que um reflexo como de uma luz que finda na escuridão endosselada dos tanques, sem mais esforço e cor do que o esplendor violeta-exílio do fim do poente sobre os montes.
No fundo nenhum outro prazer do que análise da dor, nem outra volúpia que a do colear líquido e doente das sensações quando se esmiuçam e se decompõem - leves passos na sombra incerta, suaves ao ouvido, e nós nem nos voltamos para saber de quem são, vagos cantos longínquos, cujas palavras não buscamos colher, mas onde nos embala mais o indeciso do que dirão e a incerteza do lugar donde vêm;ténues segredos de águas pálidas, enchendo de longes leves os espaços [] e nocturnos; guizos de carros longuíquos, regressando donde? e que alegrias lá dentro, que não se ouvem aqui, sonolentos no torpor morno na tarde onde o verão se esquece a outono...Morreram as flores coevas a amarelo morto com o mistério e o silêncio e o abandono. As bolhas de água que afloram nos tanques têm a sua razão para os sonhos. Coaxar distante das rãs! Ó compo morto em mim! Ó sossego rústico passado em sonhos! Ó minha vida fútil como um maltês que não trabalha e dorme à beira dos caminhos com o aroma dos prados e entrar-lhe na alma como um novoeiro, num sono translúcido e fresco, fundo e cheio de eternidade como tudo que nada liga a nada, nocturno, ignorado, nómada e cansado sob a compaixão fria das estrelas.
Sigo o curso dos meus sonhos, fazenda das imagens degraus para outras imagens; desdobrado, como um leque, as metáforas casuais em grandes quadrados de visão interna; desato de mim a vida, e ponho-a de banda como a um traje que aperta. Oculto-me entre árvores longe das estradas. Perco-me. E logro, por momentos que correm levemente, esquecer o gosto à vida, deixar ir-se a ideia de luz e de bulício e acabar conscientemente, absurdamente pelas sensações fora, com um império de ruínas angustiadas, e uma entrada entre pendões e tambores de vitória numa grande cidade final onde não choraria nada, nem desejaria nada e nem a mim próprio pediria o ser.
Doem-me as superfícies das águas dos tanques que criei em sonhos. É a minha palidez da lua que visiono sobre paisagens de florestas. É o meu cansaço o Outono dos céus estagnados que recordo e não vi nunca. Pesa-me toda a minha vida morta, todos os meus sonhos faltos, tudo meu que não foi meu, no azul dos meus céus interiores, no tinir à vista do correr dos meus rios na alma, no vasto e inquieto sossego dos trigos nas planícies que vejo e não vejo.
Uma chávena de café, um tabaco que se fuma e cujo aroma nos atravessa, os olhos quase cerrados num quarto em penumbra...não quero mais da vida do que os meus sonhos e isto... Se é pouco?Não sei. Se eu acaso o que é pouco ou o que é muito?
Tarde de verão lá fora como eu gostaria de ser outro... Abro a janela. Tudo lá fora é suave. mas punge-me como uma dor incerta, como uma sensação vaga de descontentamento.
E uma última coisa puge-me, rasga-me, esfrangalha-me toda a alma. É que eu, a esta hora, a esta janela, pensando estas coisas tristes e suaves, devia ser uma figura estética, bela, como uma figura num quadro - e eu não o sou, nem isto sou...
A hora que passe e esqueça... A noite que venha, que cresça, que caia sobre tudo e nunca se erga. Que esta alma seja o meu último túmulo para sempre, e que []se absolute em treva e eu nunca mais possa viver sem sentir ou desejar.
sábado, 24 de novembro de 2007
Utopia literária
Começo a escrever isto(seja lá o que for) com um enorme pesar. Mais uma árvore acaba de morrer. Quantas mais serão necessárias para todas as folhas de papel que são usadas nesse momento? Quantas letras gasto nesta?
Até quando será que tenho uma cota delas? Talvez uma sala gigante com armários que vão de um canto ao outro. Tantos "as", "bês"... Um estoque que parece interminável, mas que um dia irá acabar. No canto uma lixeira. No meio uma torneira, por onde escorre ou escoa... Onde vai parar?
Acabo de matar um parágrafo! [Pára]grafo! Por que não pára de matar? um ponto marca um fim... Três o quê?! Sei lá... E lá se vão minhas letras pelo lixo. "-Voltem!", mas o caminho é irreverssível. Lá vai a tinta, que nem sei de onde vem, que atrocidade a matemática! Quanta reta falsa! Quanto ângulo sem triângulo! 360°? 180°? Qual será a razão?!
Calma! Silêncio! mais um neurônio acaba de morrer... Todas as letras de preto, em sinal de luto, lá vai o caixão, com algumas pautas que ajudam a carregar. Toda essa mágoa, toda essa angústia...
Perco uma letra, mato um parágrafo, fico sem neurônio, tenho o coração na mão. E, sinceramente, seja lá o que for.
E agora , Maria?
A festa acabou,
o José se foi,
ele não te abraçou
ele apenas te deixou
e agora, Maria?
e agora mulher?
Você que tem nome
que diz não sentir nada
que chora, não sente?
e agora Maria?
Está tão só,
está sem carinho
discurso não tem
nunca pôde beber
escondida ia fumar,
abortar já não pode,
o dia se foi
o bonde se foi
o riso se foi
se foi o sonho
o amor acabou,
José fugiu
e tudo somou,
e agora, Maria?
E agora, Maria?
Sua doce palavra
seu instante de dor
sua fome e doença
sua falta de razão
seu sentimento
sua ternura
seu amor - e agora?
Com a fechadura na mao
que fechar a porta
não existe porta
[]
que conhecer Carlos
Carlos não há mais.
Maria, e agora?
Se você pudesse
se você amasse
se você conhecesse
a valsa vienensse
se você sorrisse
se você mudasse
se você sobrevivesse
mas você não vive,
você é viva, Maria!
Sozinha no mundo
qual mulher sem rumo
[]
para fugir
sem cavalo alado
você se vai, Maria!
Maria, para onde?
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Aforismo 2
sábado, 10 de novembro de 2007
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Aforismo 1
"Quem pensa por si só é triste."
domingo, 4 de novembro de 2007
Elisa
"Uma pessoa grávida de futuro."
Clarice Lispector
sábado, 27 de outubro de 2007
A um ausente - Carlos Drummond de Andrade
Tenho razão de sentir saudade,tenho razão de te acusar.Houve um pacto implícito que rompestee sem te despedires foste embora.Detonaste o pacto.Detonaste a vida geral, a comum aquiescênciade viver e explorar os rumos de obscuridadesem prazo sem consulta sem provocaçãoaté o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si,o ato que não ousamos nem sabemos ousarporque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,de nossa convivência em falas camaradas,simples apertar de mãos, nem isso, vozmodulando sílabas conhecidas e banaisque eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.Sim, acuso-te porque fizesteo não previsto nas leis da amizade e da naturezanem nos deixaste sequer o direito de indagarporque o fizeste, porque te foste.
Mora na Filosofia
(Monsueto e A. Pessoa)
Eu vou lhe dar a decisão
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Eu não guardaria isso de você. Porque eu não queria ver as coisas dessa maneira. Esse cheiro que não sai de mim, mas que saiu de você. Um aperto forte entre as mãos é o bastante. Eu quis chorar, e você quis sorrir como uma criança. Rir como quem suporta viver, e carrega um fardo pesado de dor. Tanta força que me deu força. Tanta magia que me abraçou.Não. Eu não guardaria isso de você. Queria poder tirar tudo isso de seu alcance, e te levar pra um lugar quente e aconchegante, onde sobreviveria a qualquer tristeza sem dor. Não faz sentido. Só gostaria de não te ver sofrer. E sufocar qualquer mal e te trazer todo o bem, sem te sobrecarregar. Seus olhos me olharam tão firme, levaram um pedacinho de mim que queria estar com você e sempre estará. Só precisava saber que estava tudo bem. Mas não estava.Vida, ah! vida...Seria eterna, se não tivesse um começo nem um fim. Seria infinita se tivesse começo e não tivesse um fim, mas não tem começo e tem um fim. Não tem nome.
Você sempre estará comigo, em mim e em tudo.
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Já saí de um caminho- já tive um-, já mudei meu rumo. E ainda sim me perco onde eu estou. Sou egoísta, não tenho religião, sou ansiosa, não me lembro do seu nome e não vejo porque ser diferente. Me chamam de louca, se é para explicar o que significa "excêntrica" referem-se a mim.
Como todos tenho medo de ser só. A solidão consome, atrasa, freia, mata. Sei muito sobre nada. Já acredito em mim, não escuto os outros.
Sinto cheiros e identifico com situações. As lembranças causam arrepios. Um dia, um lugar, um amigo. Tempo vazio, cheio de nada. O que o futuro guarda? Mais lembranças. Não faço nada de demais, meus netos não terão muito o que saber sobre o que vivi. Não sei se viverei tanto. Se terei netos. Ainda sim não consigo parar de pensar no que virá, ou pode deixar de vir. Penso demais nisso.
"Todo dia é menos um dia;
Para voltarmos sobre os nossos passos.
De repente descobrimos que estamos muito longe
E já não há mais como encontraronde pisamos quando íamos.
Já não conseguiremos distinguir nossos passos
de tantos outros que vieram depois dos nossos."
sábado, 11 de agosto de 2007
Carta
Querido desconhecido:
Tenho vivido muito mais de filosofia do que de viver. Tenho lido alguns livros, não findo nenhum. Eles me falam tudo o que eu preciso saber sobre a vida. Neles está escrito tudo o que eu gostaria de escrever, eles são resultados organizados do meu pensamento turbulento. E tenho vivido por eles. Me escondido atrás de autores que já morreram há anos. Abandonei conselhos de pessoas próximas pra me aconselhar com folhas de papéis, que no fim das contas não são nada além da minha própria interpretação, logo meu próprio conselho.
A solidão é um perigo.
Sinto como se cada livro ficasse com uma ponta da minha inpiração. E a cada fim de poema, texto ou capítulo eu fosse menos eu e mais um monte de palavras. Quando um dia eu morrer, certamente serei um poema escrito ao avesso. Apenas me transfigurarei para minha forma original. Por isso não tenho medo de morrer. Imagina se todos fossem poemas... Eu me apaixonaria a cada esquina.
Atenciosamente,
Elisa Maria
"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..."
(Clarice Lispector)
domingo, 5 de agosto de 2007
quinta-feira, 12 de julho de 2007
Exatamente como uma casquinha...Doce que derrete em 5 minutos.
quinta-feira, 28 de junho de 2007
Breaking the law
"Não me prometa se não puder cumprir.
Não me ame se eu não puder te amar.
Não deixe eu te amar, se você não pretende me amar.
Não me diga o que é certo se você faz o errado.
Não grite se quiser que eu fale baixo.
Não me imponha regras se você quer ser livre.
Não me faça esperar se não souber que esperar.
Não me espere se não quiser que eu te espere.
Não me faça parar de você quer continar.
Não me ligue se não tem o que falar.
Não me olhe se não quiser que eu te devore.
Não me dê motivos para chorar se não quiser que eu chore.
Não me humilhe se só quiser rir.
Não me peça que não me preocupe se você me cativou.
Não se lembre de mim se quiser me esquecer.
Não esqueça de mim se não puder me ver.
Não fique perto se quiser que eu te esqueça.
Não fale comigo se não quiser que eu fale.
Não minta se quiser me esconder a verdade.
Não me diga a verdade se ela vai me ferir.
Não cale se eu quero te ouvir.
Não me beije se não quiser me possuir.
Não me abrace se não quiser me sentir."
Felicidade
Filosofia:
"Felicidade é como comer um prato de comiga quando se tem muita fome: você como sem mastigar. Passa dez minutos você pergunta se comeu."
"Felicidade é como ver um caminhão carregado de caixas de cerveja dentro de um ônibus: logo passa."
"Felicidade é como ter várias cores de pastilha mentos, comer uma por uma e deixar a mais gostosa pro final"
"Felicidade é como uma sala de cinema, a porta de saída fica logo ao lado."
"Felicidade é como lasanha no almoço de domingo: raramente tem, e quando tem acaba logo."
"Felicidade é como casa de vó: faz maior falta!"
"Felicidade é como o primeiro beijo: estranho."
"Felicidade é como andar de bicicleta, por mais que fique anos sem andar, e pensa que não se lembra, quando anda, você ainda sabe como é!"
"Felicidade é como prova de concurso: concorrido pra carai!"
"Felicidade é como um menino mal educado: não dá tchau quando sai."
"Felicidade é como luftal: faz uma falta danada nas piores horas"
"Felicidade é como ver seu boletim da quinta série: tá beeem no passado."
"Felicidade é como uma folha de papel nova: só fica desamassada dentro do pacote."
"Felicidade é como a lei de Murphy: é! o pão vai cair com a manteiga virada pro chão!"
"Felicidade é como receber carta em dia de domingo: nunca acontece."(exagerei! rs)
"Felicidade é igual fotografia, você pensa estar nela, mas quando se revela é outro que está sorrindo..."
"'Felicidade é como' um pleonasmo: tá sempre repetindo."
chega de felicidade.
rsrsrs