sábado, 9 de abril de 2011

Mãos


essas mãos, ásperas, trôpegas, delirantes, sutis, sensíveis, suaves, trôpegas...se tocam devagar em um movimento sensual, sedutor, sexual. dançam uma valsa. pra não dizer mil valsas. essas mãos que quando não vêem o tempo passar se juntas, e sós anseiam o prazer fugaz, efêmero de se ver com os olhos das pontas dos dedos. não se inquietam, se atormentam, se deleitam. se atropelam. fazem uma composição de um blues ruidoso e sofrido. sentem-se. soletram. sofrem. obcecadas entrelaçam-se em um jogo de seduzir sem querer. em um jogo de não se reprimir. coreógrafas, deslizam em um dança contemporânea descompassada. em um arranjo do acaso, do ser acaso. escapam se escapam. sabidas por si só. anseiam. tontas. fugazes. sarcásticas, zombeteiras, profundas, devoradeiras, safadas. delas escorre lágrima e sedução e às vezes as devora. as incorpora. as deixa incorporar. solicitam-se, temem-se e julgam. roxas, amarelas, lilases, douradas, furta cor. e as mãos têm línguas que se devoram, que regurgitam, remoem, se consomem. golpeiam, se debilitam. jogos imaginários, contidos. represados, relapsos, fugazes. toques sublimes. subliminares. jocoso, indolente. e sorriem para si. arregalando seus dentes. e fecham a mandíbula fortemente, desesperadamente, em um desejo de se mastigar. vasto, dolorido e gracioso. subversivo. sedutor.

Elisa Rodrigues

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Pra alguém, ou pra ninguém.




(Figura que sugere uma pesquisa por Wilson Bentley e os flocos de neve)


Suicidar a gente já faz todo dia, sem precisar silenciar. Não existe maior desejo de viver do que trocar um último suspiro involuntário por uma memória gasta que depois de ser sua por um infinitésimo de segundo não é mais de ninguém. Acredita-se nisso unicamente por fatores que experimentamos no viver. Além disso, essas coisas não valem nada. Tudo isso para resplandecer em um eco de uma fala silenciosa que não chega até onde você quer ir. Morrer, antes de tudo é renascer para os outros. Em uma nova moldura de ouro 24 quilates sem precisar de dinheiro pra comprar. Sem renascer para si mesmo. Não vale a pena gozar de todo o brilho que te envolve se não for pra desfrutar todos os sabores. Experimentar é uma coisa que se faz com funções estritamente fisiológicas. Logo você que aprecia tanto o "sentir"? Categoricamente, a morte nada mais é que um texto escrito em um fundo de mesma cor. Suicidar é rabiscar um texto já escrito. Ainda se vê marcas da escrita no papel. É pura falta de capricho. É desprezar a estética. Covardia é querer fugir da vida porque se tem receio de fugir na vida.
Quando soube de tudo, quis te matar dentro de mim G...


segunda-feira, 31 de maio de 2010

Eis a questão


Ser, não ser ou nunca ter sido?
Hamlet queria morrer.
Ofélia gostaria de nunca ter existido.

sábado, 8 de maio de 2010

Colecionador


Já colecionei moedas, colecionei pastas, colecionei flyers, coleciono pop cards, de certo modo coleciono livros, coleciono cartas, coleciono fotos, colecionei selos, coleciono boletins, coleciono revistas, coleciono recados, coleciono câmeras, coleciono cadernos, coleciono desenhos e uma infinidades de outras coisas ou não-coisas... Eu não confiaria em um colecionador pra novas aventuras, não confiaria em um colecionador pra novas amizades, não confiaria em um colecionador pra um novo amor. Um colecionador segura tudo. Colecionador é substantivo no passado. Ser colecionador é característica essencial de alguém que está sob o signo de escorpião. Colecionar é ter tudo pra si e cada vez mais ter. Nenhum colecionador sabe dar, dividir, ser exterior. Um colecionador é um verdadeiro ser interior. Pra si e pra dentro, e pra dentro de si. Porque não se trata de criar uma reunião de objetos de uma mesma natureza, ainda mais no caso de um colecionador de coleções. Uma coleção em si não diz sobre o colecionador, mas o fato de colecionar é o que fala. Colecionar objetos é uma forma de cristalizar a coleção de pensamentos, falas, de gritos, sims e nãos. É ter tesão pelo que está pronto, é ter insegurança de ir lá e fazer. Um colecionador é um ser sem sossego. Não se desfazer das coleções. Essa é a ordem.

sexta-feira, 19 de março de 2010

sábado, 12 de dezembro de 2009

Aniversário



Parece que tudo foi
-soprado-
e não virá nada
-no vácuo do assopro-

Tudo indica que o melhor é olhar pra frente.

Elisa

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Precipitar

Ela sempre foi tão bonita como um dia cheio de negras nuvens
Isso porque antes de ser chuva a negra nuvem é gota no chão
Ah, se por ventura o vento a desviasse e ela molhasse o pano do meu guarda-chuva!
E eu não entendo porque se tem negras nuvens eu ainda consigo ver o sol
E não entendo porque as gotas suspensas que caem não batem no pano esticado do meu guarda-chuva
O que adianta ser guarda-chuva se ele nunca conhecerá a chuva?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sentido



A menina entra dentro do banheiro,
tranca a porta,
encosta na parede descendo suavemente,
e chora de cabeça abaixada com as mãos no rosto.
Ela levanta sua cabeça para deixar a lágrima cair.
Então ela percebe.
Ela sempre achara aquele banheiro muito grande.
Mas ele nunca foi tão grande quanto daquela vez.
E ela nunca foi tão só como dentro daquele banheiro.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

1ª impressão pessoal bem resolvida

foto: Elisa Rodrigues


É que sinto seu cheiro em todo lugar.
A questão não é todo lugar.
É todo esse seu cheiro.
Cheiro de árvore doce. Não.
De água doce escorrendo no tronco seco da árvore florescida.

Acho que consegui verbalizar seu cheiro.

domingo, 15 de novembro de 2009

Monólogo


Devo ter perdido minha vocação pra objetividade em alguma ruela no meio do caminho. E não sou subjetiva a ponto de conseguir objetivar minhas aspirações. Ou seja, todos os esforços de transformar bases em grandes e sólidas construções é inútil. Minha única alternativa é ser direta sem avaliar. Não adianta. É necessário colocar o que sinto pra fora. Abortar essa confusão. Dizer em uma música não é o suficiente. Parece que ninguém quer ver. Se alguém por acaso ver, não saberá. Essa falta de reparo, não é possível que você não repara. Não é possível que você não repara (o) que eu reparo em você. Tenho aflição dentro das veias. Um impulso que ferve e ainda vou te passar num abraço e te levar pra fora daqui.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Impressões fotográficas

stand by


Eu sou quem aperta o botão que dispara a câmera. Quem controla o registro, mas não controla o que é registrado.
Não há como separar a fotografia do fotógrafo. Fotografar é contar história e poder provar que ela existiu. É ver e registrar o que só você viu e da maneira como viu. Se colocar na fotografia mesmo não sendo fotografado. Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo, como disse Newton, e tudo muda o tempo todo. É isso que torna cada fotografia única apesar da contemporânea histeria pelos cliques. A câmera é, portanto, um aparato que supre a nossa incapacidade de memorizar com detalhes e de divulgar nossas impressões e visões sobre o mundo. Fotografar é um exercício de captura das interpretação vividas que serão interpretadas por uma maioria que não viveu. É tornar uma imagem uma potente experiência virtual. O recorte que abre a imaginação para o todo.


domingo, 30 de agosto de 2009

sábado, 8 de agosto de 2009

eu preciso desses seus olhos que me devoram, que me amam. eu preciso dessa boca. do seu sangue, do cheiro do seu sangue. da sensação do sangue que pulsa e some. desse gosto de boca. da sua boca. dessa voz que fala e some. antes que eu não acredite. acredite. eu bem que queria ficar. você que some. que não está. bebe veneno quando acorda. mata. me mata. some. você não é aqui. você é o passado e é agora. preciso do seu gosto. desejo de desgosto. não quero fuga. não é fugaz. fala que não me conhece. não devia me abraçar. eu. preciso desse abraço. mas você não. você nega. nega porque não gosta. não. porque gostaria. eu não te vejo. se vejo escondo. se escrevo me exponho. gosto desse delírio insano. loucura. se eu não pararia eu parei. essa é a vida. esse som de vento. esse monte de coisa que não esvazia. que transborda. entorna. esparrama. se isso não te toca. tocaria. se não te importa. não me importaria. não dá pra ser agora. quem sabe outro dia.

imagem e texto: elisa

terça-feira, 28 de julho de 2009

Máquina do tempo

Nacional - Oswaldo Cruz! =)
Foto: Elisa



Recebi cartas, por um tempo de um grande amigo.
Mandei.
E não eram apenas palavras.
Em cada palavra escrita.
Lida.
Um vida.
Sua vida.
Emoções juvenis.
Sensações fortes, ansiedades.
Aventuras.
Entre amizades mantidas, outras novas, fim de algumas que não eram pra ter fim. Fortalecimento de outras.
Nunca senti tantas emoções.
Nem ele.
Tão intensas, tão amorosas.
Todas.
Em cada remetente, um destinatário.
Uma história.
Apropriação.
Quem lê já não sabe se é do outro.
Minha.
Alegrias somatizadas.
Piadas.
Subi os morros de Araxá.
Contagem na palma das mãos.
Não eram cartas particulares.
Tantos leram.
Eles também.
Tantos participaram.
Comentaram.
Criaram anexos.
Vida.
Papel.
Papelização da vida.
Vida da papelização.
Imaginação.

Realidade.
'A festa acabou.'
Distância.
Distância.
Não existem mais cartas.
Amizade.
Tempo.
Falta.
Carnaval:
Vivi a realidade do papel.
Reencontro em despedidas.
Reencontro/Encontro dos presentes e do passado.
Duas histórias.
Fantasia.
A verdadeira.
Uma na cara da outra.
Máquina do tempo.
Tempo condensado.
Passado.
Presente.
Gozo de alegria.
Lágrimas.

Tudo mudou.
Pra sempre.
Igual.


Elisa

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Quem eu sou


Sou um eclipse.
Este ano eu já aconteci.
Daqui há 60 anos voltarei a acontecer.

Pobre de mim mortal,
que não sei se terei uma próxima vez.
Se houver,
tome por certeza que será a última.
Elisa